O papo eleição acabou, então fui para o meu quarto e lá estava minha avó, sentada na frente da janela olhando o movimento da rua. Me deitei em sua cama e ela começou a falar.
Começou a falar de uma garotinha que ela carregava no braço e ficava na porta para tomar sol. Aquela garotinha que ela penteava o cabelo e colocava para dormir. Garotinha que viveu com ela a vida toda, que ela fazia questão de defender e fazer todas as vontades.
Garotinha, essa que hoje cresceu, que já tem 19 anos e que perdeu o brilho de criança. Que já não encanta, que acha que se tornou bonita, mas no fundo se tornou foi feia. Aquela garotinha cresceu, já não ouve mais conselhos, vive sua própria vida, achando que está certa mesmo estando errada.
Hoje na real da história, aquela garotinha, meiga, ingênua, carinhosa, dependente, obediente, toda medrosa, já não existe mais.
Minha avó, viu cada evolução daquela garota, praticamente viu nascer, esteve ao lado dela em todos os momentos, na queda, na fome, na dor, na tristeza, na teimosia, na saudade, na perda, no crescimento, na ida a escola, no 1º passeio, quando ganhou o 1º animal de estimação, na doença, na saúde, na felicidade, na formatura do 1º grau, no ginásio, no 1º namorado, na 1ª paixão, no 1º beijo, no 1º amor, nos aniversários, quando cortou o cabelo, quando o cabelo cresceu, em todos os momentos cruciais de uma vida.
E hoje minha avó chora, sentindo falta daquela menina, por que hoje não ver mais em seus olhos existir a garotinha de antes. A garotinha de olhos puxados, sobrancelhas falhada, boca miúda cor de pele, cabelo preto encaracolado, pele café com leite e perfume cheirinho de bebê, já não existe mais.
Hoje os olhos puxados, usam lápis preto, as sobrancelhas falhada, estão feitas e bem finas, o cabelo encaracolado, foi alisado e já não está mas preto e sim castanho avermelhado, a boca miúda cor de pele, usa um batom acobreado, a pele café com leite, já não tem mais tanto leite e o perfume, deixou de ser cheirinho de bebê e passou a ser cheiro de mulher. Ela deixou de ser ingênua e passou a olhar a vida com esperteza.
Aquela menina, garotinha da vovó, fui eu, um dia, a anos, era eu.
Sinto pela dor e perda da vovó, mas não posso ajuda-la, não sei aonde essa garotinha está, não sei por onde procurar, não tem como resgata-la. Poderia até tentar mas ela não tem como encontrar. Mesmo que deixe o cabelo encaracolar e de preto pintar, os olhos sem lápis passar, as sobrancelhas sem afinar, a boca sem batom usar, a pele leite derramar e o perfume de bebê voltar a usar, nada disso vai adiantar, por que aquela garotinha se tornou mulher. Talvez não tenha sido algo bom ou aconteceu cedo demais, mas no tempo não se pode mandar. E na vida há questões sem resposta, ou que haja resposta, elas não serão a que queremos dá, mas sim a que a pergunta exige.
O mundo, o tempo, os anos, a vida, o ambiente, o século, a moda, as companhias, tudo muda uma pessoa, exige dela e faz com quê as coisas e escolhas deixe de ser como antes.
A culpa não é minha, nem de ninguém, é só a vida tomando rumos que muitas vezes não queremos ou não esperávamos. O problema é que no curso da vida nós, serem viventes não podemos interferir.
Sinto não ser a mesma de antes, tem vezes que até penso em voltar no tempo, mas o tempo não volta e não se altera o passado, minhas escolhas traçaram caminhos, novos destinhos e deles não posso fugir.
A vida é assim.
A garotinha da vovó, não pode mais existir.
![]() |
Onde ela está?! |
Oi prima! Desculpe a demora pra vir visitar o teu blog! Amei "a garotinha da vovó"! Acho que ao mesmo tempo em que ela se entristece por nao ter mais aquela garotinha, ela é feliz por te-la tido por alguns anos. E se ela ainda tem essas boas lembrancas é porque foi uma linda experiência conviver contigo quando você ainda era uma garotinha.
ResponderExcluirMande um beijo meu para as tias, primas e primos. E um beijo e um carinho especial pra vovó de quem tenho muitas saudades.